quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Conto: SOZINHA NA CIDADE GRANDE, de Lucia Millet



Sozinha na cidade grande


Este conto é
continuação dos contos
 
Meu Primo Gustavo e
O Primeiro Namorado
,
publicados anteriormente.

     
       Não tive outro namorado nem outra aventura sexual depois que o Sidney me deixou. Assim que terminei o 3º Colegial decidi ir embora da cidade para vir morar na Capital. Para meus pais disse que queria trabalhar e fazer faculdade, como muita gente na cidade fazia, mas meu desejo mesmo era começar uma vida nova na cidade grande. Numa tarde desci do ônibus na rodoviária de São Paulo com duas malas nas mãos, uma com as roupas do Marcelo, outra com as roupas de Lúcia e fui para a pensão que haviam me indicado no bairro da Bela Vista, um casarão antigo razoavelmente limpo, onde teria um quartinho só para mim, apesar do banheiro ser coletivo. O que me encantou quando a dona me mostrou o quarto foi o grande espelho que havia por dentro da porta do guarda-roupa, um espelho onde podia me ver de corpo inteiro, nem em casa eu tinha um daqueles.
Pouco tempo depois de chegar em São Paulo consegui arranjar emprego num departamento de um grande banco, naquela época estavam contratando muita gente e não ligaram para a minha falta de experiência. O serviço era monótono e o salário uma miséria, mas era meu primeiro emprego e eu estava entusiasmada. Continuei morando na mesma pensão já que com o que eu ganhava não daria pagar o aluguel de um apartamento, por menor que fosse. Fiquei no meu quartinho com o grande espelho na porta do guarda-roupa. Quando voltava do trabalho, me trancava no quarto e colocava as roupas de Lucia. Não tinha muita paciência de me montar inteira, geralmente vestia apenas calcinha fio-dental e sutiã ou um body ou um espartilho com meias 7/8, e aquilo já era suficiente para me sentir mulher. Admirava minha imagem no espelho, de frente e principalmente de costas, adorava ver minha bunda no fio-dental, andava de um lado para outro e até ensaiava um rebolado. Essas coisas sempre me deixavam muito excitada e depois de muitas idas e vindas acabava indo para a cama me masturbar, sempre com o vibrador enfiado no cu. Já há algum tempo o prazer sexual para mim tinha ficado associado àquela sensação de ser penetrada e agora raramente eu me masturbava sem o vibrador.

A transexual mexicana Brithany Aniky.

Quando me masturbava imaginava diversas histórias em que eu sempre fazia o papel passivo, quer como mulher, quer como crossdresser. Sim, muitas das vezes simplesmente imaginava que eu havia nascido mulher, uma mulher como eu gostaria de ser, não particularmente bonita, mas com um corpo muito sensual e um bumbum maravilhoso, e então tudo se tornava mais fácil, o flerte, o namoro e até o sexo, já que eu tinha uma vagina para dar e a bunda tornava-se apenas um complemento. Como mulher também era possível imaginar histórias românticas, como aquelas das telenovelas, e o que começava como uma simples transa podia terminar em namoro e até casamento. E quando esses enredos heterossexuais me cansavam, imaginava outros mais dentro da minha realidade, em que eu era um homem que se vestia de mulher e transava com outros homens que sentiam atração por mim, só que nessas histórias não havia muito romance, era mais sexo mesmo.
Tinha começado a tomar hormônios por conta própria na época em que estava com o Sidney e não parei mais. Senti que meu corpo ficou mais feminino, os pelos diminuíram e os poucos que restavam eu eliminava com a gillete. Meus peitos não cresceram muito, é verdade, começaram a nascer mas ficaram por aí, como os seios de uma menina que acabara de entrar na puberdade Aqueles meus peitinhos não eram seios de verdade, eu queria que ficassem maiores, mas sem exagero. Sempre achei bonito mulheres com os seios pequenos, seios pequenos e bumbum empinado – era como eu queria ser. Por isso controlava meu peso e não relaxava nos exercícios físicos para manter o bumbum durinho, as pernas grossas e a cintura fina; só não exercitava os braços nem ombros para que não ficassem masculinos.
No local onde trabalhava não fiz muitas amizades, nem com os rapazes, nem com as moças. Cumprimentava, trocava umas poucas palavras, nada mais. Acho que eu não convencia muito como homem, apesar de não desmunhecar nem falar afetado como alguns gays que trabalhavam lá. A maioria dos colegas devia pensar que eu era gay enrustido, mas eu não me identificava com os gays, não era simplesmente um homem que sentia atração por outros homens, para eu transar precisava me vestir de mulher, ser tratada como mulher, me sentir mulher. Minha aparência, os cabelos compridos e uma certa delicadeza nos gestos, deviam me dar um ar andrógino. Uma vez ouvi uma menina comentar quando eu passava: “Ah, que pena que ele não gosta de mulher! É tão bonitinho!”.
A linda transexual mexicana Camila Montoya.

      Quando vim morar em São Paulo parei de vez de usar cuecas, só usava calcinhas, o que era complicado porque na pensão tinha de lavá-las enquanto tomava banho e depois deixar secar no meu quarto para que ninguém visse. Sentia prazer de estar de calcinha por baixo das roupas de homem, ainda que ninguém visse. Algumas eram um pouco maiores, tipo biquíni, outras fio-dental, que me incomodavam um pouco enfiadas no meu rego o dia todo, mas o desconforto era compensado por aquela sensação de me sentir mulher. Em alguns dias chegava mesmo a ir trabalhar com calcinha e sutiã, naturalmente um sutiã liso, sem bojo nem armação, apenas dois triângulos de lycra sobre meus peitos, com o fecho nas costas e as alças nos ombros, que também causavam um desconforto agradável.
Na cidade grande as coisas são mais abertas, os gays, as lésbicas, as travestis. Eu sentia um fascínio pelas transformistas e travestis. Ah, como eu queria ter a coragem de sair na rua vestido de mulher, quem sabe encontrar outras pessoas como eu. Mas como? Imaginem se eu poderia sair da pensão vestido de mulher?  O que eles iam pensar de mim? Bem, acho que já pensavam alguma coisa, mas não tinham certeza.
Um dia saí da pensão levando a mala das as roupas de Lúcia e disse que ia fazer uma pequena viagem e que voltaria no dia seguinte. Na verdade hospedei-me num hotel barato no centro da cidade numa região frequentada por gays. Demorei mais de uma hora para me montar: maquiagem, cabelos, roupas. Como eu tinha os cabelos cumpridos não precisava usar peruca, e com alguns arranjos ele ficava bem feminino. Optei por uma maquiagem leve: base, pó compacto, batom e lápis nos olhos. As roupas foram o mais complicado, eu tinha poucas roupas para sair à rua, a maioria das minhas coisas eram escandalosas, muito justas, muito curtas, vermelhas, rosa, bem no estilo piranha. Tinha apenas uma blusa listrada de manga cumprida e uma saia azul rodada e que não era muito curta. Por baixo usava um conjunto de calcinha fio-dental e sutiã com bojo, que dispensava o enchimento e ficava bem natural, e meias-calças pretas semitransparentes, que deixavam minhas pernas maravilhosas, ainda que no fundo preferisse as meias 7/8 presas com cinta-liga, muito mais sensuais. Coloquei brincos de pressão porque ainda não tinha as orelhas furadas e uma pulseira, mas resisti ao colar para não ficar muito perua. Por fim, calcei as sandálias pretas com saltos grossos de cinco centímetros, um pouco baixa, eu sei, mas ainda não tinha ainda habilidade para andar com saltos mais altos e finos. Uma bolsa preta a tiracolo completava o meu visual e também servia para levar minhas coisas, já que eu não tinha mais bolsos. Admirei-me longamente no espelho, o resultado me pareceu aceitável, uma moça discreta dando um passeio num sábado à tarde. Ainda assim hesitei um pouco antes abrir a porta do quarto e sair, era como se eu estivesse rompendo uma barreira, tomando um caminho do qual não poderia mais voltar.  Desci as escadas ansiosa, deixei a chave na portaria dizendo “boa tarde” ao empregado, que não se mostrou nem um pouco impressionado ao me ver vestido de mulher, e saí para a rua.

A trans americana Ava Keading.

Senti um frio na barriga ao me ver pela primeira vez em público vestida de mulher. Procurava caminhar devagar, com gestos contidos, uma mão na alça da bolsa, a outra livre. Era um sábado à tarde e as ruas daquela região estavam tranquilas, o movimento mesmo começava mais à noite. Acho que devia estar um pouco paranóica, parecia que todos olhavam para mim, que todos reparava em mim. Aos poucos fui me acostumando com a situação e me acalmei. A maioria das pessoas que cruzaram comigo simplesmente me ignorava, só alguns poucos lançavam olhares curiosos. Na verdade não havia nada de excepcional em mim, a não ser pelo fato de eu ser um homem e estar vestido de mulher, o que numa cidade como São Paulo não era de todo novidade, só era um pouco estranho. Alguém assobiou para mim quando passei em frente de bar, e ouvi um rapaz dizer: “Até que ela é gostosa”, e outro responder “Acho que dava para pegar”, depois todos riram juntos. Senti novamente o frio na barriga, tinha medo que acontecesse alguma coisa, um escândalo ou que eu fosse agredida. Continuei caminhando com as pernas tremendo, felizmente não vieram trás de mim. Não tinha destino, só queria fazer aquilo, caminhar pelas ruas vestido de mulher. Parei diante de algumas vitrines de roupas femininas e de calçados, mas me afastava assim que alguma vendedora ameaçava se aproximar. Caminhei e caminhei até ficar cansada e já pensava em voltar para o hotel quando cruzei com um senhor simpático que me olhou de cima a baixo.
– Ei, linda, como você se chama? – ele disse quando nos cruzamos.
Não respondi e continuei andando. Ele veio atrás de mim.
– Ei! Espera, aí! – ele continuou – Vamos conversar um pouco.
Achei melhor parar para evitar algum escândalo.
– Qual o seu nome? – ele perguntou.
– Lúcia – disse tentando fazer a voz mais feminina possível.
– Lúcia?  – ele disse. – Eu me chamo Paulo. Você está indo para algum lugar?
– Ia visitar umas amigas – menti.
– Estão te esperando? – ele perguntou.
– Não – respondi – Vou de surpresa...
– Ah, então não tem pressa. Olha, vamos naquela naquele barzinho tomar um drink? Eu pago – disse ele.
– Eu não sei – respondi hesitante.
– É um bar gay, bem tranquilo. Só para a gente conversar um pouco... – ele pediu gentilmente.
Não sei se porque estava cansada de andar ou porque Paulo se mostrou cavalheiro ou porque era um bar gay onde me sentiria mais segura, no fim acabei aceitando. O tal bar era um lugar meio escuro, com as paredes decoradas com posters de atrizes famosas: Greta Garbo, Marilyn Mooroe, Brigitte Bardot, e outras que eu não conhecia. Estava quase vazio àquela hora, a não ser por dois rapazes gays que conversavam numa mesa. Paulo escolheu uma mesa isolada, no fundo. Eu pedi um Martini e Paulo, um uísque com gelo.
– Você passa sempre por aqui? Eu não me lembro de ter visto você. Não ia esquecer de uma pessoa tão linda – ele disse.
– Não, é a primeira vez que ando por aqui – respondi.
– Você fica muito bem vestida de mulher. Linda mesmo! – ele exclamou.
– Obrigada! – respondi encabulada.
Conversamos, contei que me vestia de mulher desde muito cedo e só agora tinha tomado coragem para sair montada. Ele me contou que era casado, tinha dois filhos adolescentes, mas que sempre sentiu atração por transexuais, e que já tivera casos alguns casos. Eu contei que tive um namorado, que namoramos por quase um ano, e que ele depois me trocou por uma mulher de verdade.
– Como ele pode fazer uma coisa dessas? – disse ele pegando minhas mãos sobre a mesa.
– É a vida – disse eu sem tentar tirar as mãos.
*          *          *
A sexy TS Andy Naçebi.

Quando chegamos ao hotel onde eu estava hospedada, o funcionário da recepção entregou a chave do quarto sem se importar que eu voltasse acompanhada, certamente esse tipo de ocorrência devia ser usual naquela espelunca. Como chegamos ali? Bom, Paulo me cantou, eu dei uma de difícil, mas ele era tão gentil e foi tão atencioso comigo que acabei cedendo. Desde que o Sidney tinha me abandonado eu não transava com ninguém, e já fazia mais de seis meses. Paulo era um coroa bem simpático, demos alguns beijos lá mesmo no barzinho, ele passou a mão nas minhas coxas e, sei lá, pintou um clima.
No quarto disse para Paulo ficar à vontade e fui para o banheiro levando algumas coisas comigo.  Tirei a blusa, saia, meia-calça e introduzi um plug anal (tinha descoberto que assim a penetração ficava mais fácil e menos dolorida). Vesti meias 7/8 brancas, a cinta-liga e a calcinha fio-dental por cima, para poder transar sem precisar tirar tudo. Sempre gostei de transar meio vestida, com o sutiã, as meias e a cinta-liga, era a uma maneira de me sentir mais feminina, se ficasse totalmente nu pareceria mais um rapazinho.
Saí do banheiro e vi que Paulo já tinha tirado a camisa e me esperava sentado na cama. Ele tinha o peito bem cabeludo dele e isso me deixou mais excitada, apesar de odiar os pelos em mim achava bonito homens peludos. Parte dos pelos no peito dele já estavam ficando brancos. Quantos anos ele teria? Quarenta e cinco, cinquenta? Não tive coragem de perguntar.
– Como você está linda, Lúcia! – disse Paulo quando me viu.
Ele se levantou da cama e se aproximou de mim. Nós nos abraçamos e Paulo começou a beijar, primeiro no pescoço e no rosto, depois boca. Enquanto isso as mãos de Paulo pela passeavam por minha bunda. Senti o pau dele bem duro dentro das calças, e ele deve ter sentido o meu igualmente duro estufando a lycra da calcinha.
– Que bunda você tem, Lúcia! – disse ele com as duas mãos nas minhas nádegas.
– Espere eu pouco, Paulo – eu pedi sorrindo.
Fiquei de joelhos em frente dele, desabotoei seu cinto, abri o ziper, abaixei as calças até os joelhos e comecei a chupar seu pau. Era um pau de bom tamanho, maior do que o do Sidney, mas nada de assustador. Paulo acariciava minha cabeça enquanto eu chupava com determinação. Ficamos assim por bom tempo, eu chupando e ele gemendo de prazer. Até que uma hora ele disse:
– Para, Lúcia! Você chupa muito bem, mas é melhor parar senão eu vou gozar. Quero comer essa sua bundinha linda antes.
Fomos para a cama. Eu tinha levado várias camisinhas para o caso de acontecer alguma eventualidade; não ia transar de maneira nenhuma com um estranho sem usar preservativo. Paulo foi carinhoso comigo, tudo aconteceu de maneira suave, apesar do pau dele ser grande. Ah, como era bom ser comida de novo, sentir um macho dentro de mim. O vibrador saciava o tesão, mas não havia nada como um pau de verdade, vivo, quente, indo e vindo dentro da gente, o calor de nossos corpos, o suor, os ruídos, os gemidos, os cheiros. Depois que gozamos ficamos na cama abraçados por algum tempo, sem dizer nada, eu com a cabeça apoiada no ombro de Paulo enquanto ele acariciava levemente minhas costas.

A transexual chilena Kyara Rivera.

– Há muito tempo que não transava desse jeito, Lúcia! Você é demais! – ele disse.
– Você também foi ótimo, Paulo! Eu estava precisando tanto levar uma vara! – respondi sorrindo.
– A gente precisa continuar se vendo. Você quer? – ele perguntou.
– Quero, claro – respondi.
– Podemos nos encontrar no mesmo bar na semana que vem. Topa? – ele sugeriu
– Combinado – respondi.
– Bom, Lúcia, agora eu preciso ir – disse Paulo levantando-se da cama. – Se pudesse ficaria a noite toda com você, mas eu sou casado, você sabe... e estão me esperando em casa...
Ele me beijou mais uma vez antes de ir embora. Fiquei no hotel para dormir e só voltei para a pensão no dia seguinte à tarde carregando a mala de Lúcia, como se tivesse voltado de uma viagem.
Na semana seguinte tive de repetir o ritual, sair da pensão, hospedar-me no mesmo hotelzinho e sair montada para ir encontrar com o Paulo no bar gay. Conversamos, bebemos, demos uns amassos e voltamos ao hotel para transar. Nessa segunda transa, Paulo fez uma coisa surpreendente: ele chupou meu pau. Achei estranho, até então só eu chupava o pau dos outros, mas até que foi gostoso, um carinho... Depois eu chupei o pau dele e dei a bunda.
– Ah, Lúcia, eu nunca estive com alguém com você. Onde você se escondeu esse tempo todo! – disse Paulo deitado ao meu lado na cama – A gente precisa se encontrar mais, uma vez por semana é muito pouco.
– Eu também acho, Paulo – respondi. – Mas olha, pra mim é fica difícil. Eu moro numa pensão, você sabe. Não posso sair de lá vestida de mulher. Tenho de me hospedar aqui para me montar e com o que eu ganho não dá para ficar pagando hotel.
– Você não me disse nada, Lúcia – disse o Paulo acariciando meu corpo seminu, vestia apenas o sutiã e meias 7/8 arrastão. – Eu posso pagar o hotel. Aliás, é minha obrigação pagar, afinal eu sou o homem e você é a mulher.
– Obrigada! Então está certo! – respondi sorrindo.
 – Olha, Lucia, – prosseguiu Paulo – se você quiser, eu poderia pagar o aluguel de uma quitinete para você. Aí com o dinheiro da pensão você paga o condomínio, a luz e ainda ia sobra. Que acha?
 –Você está falando sério? – perguntei eu boquiaberta.
– Claro! – respondeu Paulo.

A fantástica TS russa Kalindra Chan.

Morar sozinha, ter um apartamento só para mim, era o meu sonho. Eu poderia ficar vestida de mulher o tempo todo e para sair montada seria mais fácil. Não acreditei muito que Paulo estivesse falando sério, era bom demais para ser verdade, e nós nos conhecíamos há tão pouco tempo. Mas poucas semanas depois eu estava me mudando para uma quitinete de vinte e nove metros quadrados no Edifício Copan, centro de São Paulo, um prédio imenso, projetado pelo Oscar Niemayer, com centenas e centenas de apartamentos e onde moravam milhares de pessoas. Gostei de tudo, inclusive do gigantismo do prédio, porque meio de tanta gente ninguém ia reparar se o morador do 826 saía vestido de homem ou de mulher.
Paulo vinha me ver duas ou três vezes na semana, conversávamos, transávamos, assistíamos à televisão juntos, mas ele nunca ficava para dormir, tinha de voltar para casa. Gostava do Paulo, era gentil, tinha boa conversa, transava bem e me fazia sentir uma mulher. Mas não poderia dizer que o amava, como amei o Sidney. Sei lá, parecia que faltava alguma coisa, era só uma boa transa, mais nada. Eu sentia falta de amar e de ser amada, sei lá, acho que devo ser do tipo romântica.
Depois que mudei para a quitinete eu só colocava roupas de homem para ir trabalhar, um sacrifício necessário. No mais passava o tempo todo vestida de mulher, inclusive quando tinha de sair para fazer compras no supermercado ou em alguma loja. Naturalmente usava sempre roupas discretas, mesmo assim às vezes mexiam comigo na rua, sentia raiva, mas seguia em frente como se não fosse comigo. Descobri que usando grandes óculos escuros de mulher, com lentes degradê, eu passava melhor, além de me sentir mais protegida atrás das lentes, e os óculos se tornaram um complemento indispensável para eu sair à rua, mesmo que não fizesse sol. Comprei mais roupas femininas, coisas baratas para usar no dia-a-dia: vestidos, saias, blusinhas e leggings. Os leggings se tornaram minha paixão, tinha vários, pretos, coloridos, estampados, com listras. Ficavam ótimos em mim e não deixavam de ser discretos, desde que usasse com uma blusa cumprida que cobrisse a bunda. Também comecei a ousar sair sandálias um pouco mais altas, com salto de 7 ou 8 centímetros e conseguia caminhar com facilidade. Parece que meus treinos em casa começavam a dar resultado, e isso me deu esperança de um dia conseguir andar com bem com um salto agulha de 10 ou 12 centímetros.
*     *     *
A trans brasileira Eduarda Vieira.

– Lúcia, hoje quero fazer uma coisa diferente? – disse Paulo uma noite quando estávamos juntos no apartamento.
– O que, Paulo? – perguntei, imaginando alguma sacanagem nova.
– Queria inverter os papéis – ele disse.
– Como assim? – perguntei.
– Inversão. Eu dou e você me come – ele explicou.
– Mas, Paulo, eu não posso – respondi chocada – Eu sou a mulher, sou sempre passiva.
– Ah, Lúcia, não custa nada variar um pouco – ele respondeu. – Você fica com o pau duro quando nós transamos, não fica? Então?
– É fico de pau duro, mas não é para enfiar em ninguém. Ah, Paulo, não! Para mim é totalmente impossível! – respondi um pouco irritada.
Acabamos nem transando naquela noite; depois disso nossa relação esfriou bastante. Paulo sem dúvida ficou decepcionado comigo, ele certamente já devia ter transado com outras crossdressers, transexuais ou travestis que faziam a passiva e a ativa. Para mim isso era totalmente impossível, simplesmente não conseguia me imaginar comendo alguém, homem ou mulher. Não odiava meu pau, ainda que fosse difícil acomodá-lo dentro calcinha e que tivesse de apertá-lo bem se quisesse usar uma saia justa ou um legging. Era com ele que eu obtinha meu prazer, porque sempre me masturbava enquanto era penetrada por trás, e dava deliciosas ejaculadas. Mesmo assim eu me considerava uma mulher, uma mulher com pau, mas acima de tudo uma mulher.
*           *            *

Outra trans brasileira, Izabelly Marquesine.

Odiava quando na rua ou em outros lugares percebiam que eu não era mulher. Mesmo que não falassem nada sentia alguns olhares maliciosos, sorrisos escondidos. Tudo culpa do meu nariz, esse pensamento se tornou uma obsessão para mim. Se eu operasse nariz ficaria muito mais feminina, muito mais passável, como dizem. Não que meu nariz fosse feio, mas era um nariz de homem, do Marcelo, não combinava com Lúcia. Se ele fosse menor, mais arrebitado, ficaria perfeito; uma pequena modificação que faria toda a diferença do mundo. Cheguei a fazer uma consulta numa clínica de cirurgia plástica, mas o preço me desanimou.
– Paulo, eu queria operar o nariz, mas é tão caro. Será que você poderia me emprestar do dinheiro, depois vou pagando aos poucos – disse para o Paulo.
– É muito dinheiro, Lúcia. Para mim já fica apertado pagar o seu aluguel – ele respondeu. – Mas olha, tenho um amigo que é cirurgião plástico, o Cléber. Ele gosta de operar transexuais, já operou várias. Vou pedir para ele marcar uma consulta para você.
Depois disso Paulo não veio mais me ver, acho que nem tanto por eu ter pedido dinheiro a ele e sim por eu não ter comido bunda dele. Agora eu ia ter de me virar sozinha para pagar o aluguel, o condomínio, luz, fora as outras despesas. Ia ficar bem apertado para mim e no fim ia ter de entregar o apartamento, porque com o dinheiro que eu tinha só daria pagar o aluguel por uns dois meses no máximo. Seria tão ruim ter de voltar para a pensão, imaginem só poder usar roupas de mulher trancada no meu quarto. Mas não havia nada a fazer. A boa notícia foi que a secretária do tal cirurgião plástico amigo do Paulo me ligou para marcar a consulta. Ela me deu um único dia e horário disponíveis e tive de aceitar. Tudo bem, não custava nada fazer uma avaliação com o tal Dr. Cléber, mas sem o dinheiro para operar não ia adiantar muita coisa, pensei.



A bela transexual argentina Laura Boldrini.

Uma semana depois eu estava sentada no sofá do consultório do Dr. Cléber num prédio chiquérrimo no bairro de Higienópolis. Fui vestida de mulher, é claro. Tive de arranjar uma desculpa para sair mais cedo do serviço e correr em casa para me montar e ir à consulta. O horário que marcaram era o último do dia, às 19:30 hs, talvez por eu não estar pagando eles me colocaram no pior horário. Cheguei uns 20 minutos antes, quando a maioria das pessoas que trabalhavam no prédio estava saindo. A recepcionista do doutor Cléber fez minha ficha e pediu que eu aguardasse no sofá. Ela própria parecia estar pronta para ir embora, já com a bolsa ao lado da mesa, e provavelmente quanto terminasse a consulta não a encontraria mais lá.
– Pode entrar, Lúcia. O Dr. Cléber a aguarda – disse ela gentilmente depois de atender ao interfone.
– Você fica muito bem vestida de mulher – disse o doutor Cléber quando me viu entrar na sala.
– Obrigada. Achei melhor vir assim – respondi embaraçada.
– Fez bem – disse o doutor. – Assim posso avaliar melhor seu caso. Você realmente é bonita como o Paulo me falou.
– Obrigada – respondi.
 – Por favor, sente-se – disse o doutor indicando a cadeira diante de sua mesa.
Sentei e cruzei as pernas. A minissaia subiu um pouco, talvez por inexperiência minha e tive de ajeitá-la depois de sentada. Vi que o Dr. Cleber olhou para minhas coxas através do vidro transparente da mesa. O doutor era bem bonitão, devia ter uns 40 e 45 anos, atlético, e não vi aliança no dedo dele. Ele tirou fotos minhas de frente e de perfil e fez várias simulações de narizes no computador. Optei por um nariz feminino e que não ficasse muito artificial em mim.
– E você só quer operar o nariz? – ele perguntou – Não pensa em colocar próteses nos seios, tirar o pomo de adão?
– Quem sabe mais para frente, doutor. Por enquanto não, só o nariz mesmo – respondi.
– Realmente esse nariz vai ficar perfeito em você – disse ele olhando a simulação na tela do computador.
– Doutor, não sei se o Paulo falou... Meu dinheiro é curto, não dá para pagar a operação de uma vez só, mas eu posso ir pagando aos pouquinhos – disse timidamente.
– Depois nós vemos isso – disse o doutor recostando-se na cadeira. – Sou fascinado por transexuais, tenho prazer em operá-las e deixá-las mais bonitas.
– Paulo me contou que o senhor já operou várias transexuais – disse sorrindo como se tivesse acertado um bilhete premiado.
– Sim, várias – disse o doutor. Depois prosseguiu – Agora vá para trás daquele biombo e tire a roupa.
– Tirar a roupa? – repeti surpresa.
– É. Preciso examinar você de corpo inteiro – ele disse.
– É para tirar tudo? – perguntei..
– Quase tudo – ele disse. – Pode ficar só de calcinha. Você está de calcinha, não está?
– Estou – respondi.

A TS americana Jonelle Brooks.

Achei estranho ele ter de me examinar de corpo inteiro, afinal eu só queria operar o nariz, mas ele era médico e achei melhor não discutir. Fui para trás do biombo e tirei a blusa, a saia, as sandálias, o sutiã, a meia-calça e fiquei apenas com a calcinha fio-dental rosa, rendada na frente, lisa trás. Senti-me um pouco envergonhada quando me vi ali diante da mesa do doutor só de calcinha. Ele me olhou de cima abaixo.
– Você tem um corpo bonito, coxas grossas, cintura fina – exclamou o doutor.
– Obrigada. Eu me exercito quase diariamente, sabe? – disse.
– E também toma hormônios? – ele perguntou.
– Tomo – respondi e disse ao doutor o nome dos dois remédios que tomava.
– Você é exatamente como o Paulo me descreveu: muito interessante – ele disse e em seguida perguntou: – O Paulo e você ainda estão se vendo?
– Não. Acho que não estava dando mais certo, sabe? – respondi imaginando que talvez o doutor soubesse o motivo pelo qual Paulo tinha deixado de me ver.
– Vire-se de lado – ordenou o doutor levantando-se da mesa a aproximando-se de mim – Agora de costas – ordenou novamente, e dessa vez senti as mãos dele nas minhas costas, nas minhas coxas e finalmente na minha bunda.
– Você tem nádegas perfeitas, Lúcia – disse o doutor apalpando minha bunda. – Nisso não vamos precisar mexer.
– Obrigada – respondi encabulada.
Contra a minha vontade o meu pau começou a ficar duro e fazer volume dentro da calcinha. O doutor na certa deve ter percebido a minha ereção.
– Estou muito interessado em seu caso, Lúcia – disse ele olhando meu pau cada vez mais duro – Com algumas pequenas modificações você vai ficar uma bela mulher.
– O doutor vai me operar então? – perguntei sorrindo.
– Claro! – ele respondeu me devorando com os olhos. – Quero deixar você ainda mais linda.
Estávamos de frente um para o outro, Dr. Cléber se aproximou mais de mim, até ficarmos com os rostos bem próximos. Meu pau estava cada vez mais duro e fazia força para escapar de dentro da calcinha. Senti as mãos dele na minha cintura e depois seus braços fortes me envolvendo e me apertando. Ele me beijou e não resisti, abri um pouco a boca para que nossas línguas se tocassem. Senti o pau dele duro dentro das calças brancas de médico, e ele também deve ter sentido o meu.
– Quero ver se você é gostosa mesmo como o Paulo falou! – disse ele entre os beijos.
– Ai, doutor! – foi só o que consegui responder já totalmente entregue.
Transamos num divã que havia num canto da sala, talvez colocado ali exatamente com essa finalidade. Eu já estava há duas semanas sem transar e acho que meu tesão tinha se acumulado. Entreguei-me toda ao Dr. Cléber, chupei o pau dele e depois me deitei de bruços e dei a bunda. Parece que a operação no meu nariz não ia sair totalmente de graça, pensei comigo, vou ter de pagar com o meu cu. Essa ideia me deixou mais excitada ainda, sentia-me como uma garota de programa ou uma travesti vendendo o corpo para ganhar a vida. Também não era nenhum sacrifício dar para o Dr. Cléber, tão bonitão e transava tão bem. “Ah, Lúcia, você está virando uma vadia!”, pensei comigo enquanto o doutor me comia, indo e vindo dentro de mim, devagar no começo e depois cada vez mais rápido, mais rápido, até chegarmos ao gozo, uma explosão, minha e dele ao mesmo tempo. Voltei para casa sorrindo de felicidade, não apenas por ter sido comida, mas também pela perspectiva de finalmente operar o nariz.

  FIM

Essa história continuará no conto A Transição, a ser publicado.

Outra trans mexicana, Victoria Volkova, linda mesmo antes da operação no nariz.

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